Causas de Dermatoses Ocupacionais
Dois grandes grupos de fatores podem ser enumerados como condicionadores de dermatoses ocupacionais:
- Causas indiretas ou fatores predisponentes;
- Causas diretas, constituídas por agentes biológicos, físicos, químicos existentes no meio ambiente e que atuariam diretamente sobre o tegumento, quer causando a dermatose, quer agravando uma preexistente. Birmingham (1998).
Causas Indiretas ou Fatores Predisponentes:
- Idade: trabalhadores jovens são menos experientes e costumam ser mais afetados por agirem com menor cautela na manipulação de agentes químicos, potencialmente perigosos para a pele. Por outro lado, o tegumento ainda não se adaptou ao contatante para produzir espessamento da camada córnea (Hardening), tolerância ou adaptação ao agente. Lammintausta e Maibach (1991).
- Sexo: homens e mulheres são igualmente afetados. Contudo, as mulheres apresentam maior comprometimento nas mãos e podem apresentar quadros menos graves e de remissão mais rápida. Patil e Maibach (1994); Meding (2000). As mulheres, de um modo geral, apresentam melhor prognóstico em sua dermatose. Nethercott e Holness (1993).
- Etnia: pessoas das raças amarela e negra são mais protegidas contra a ação da luz solar que pessoas da raça branca; negros apresentam respostas queloideanas com maior frequência que brancos. Existem diferenças raciais na penetração de agentes químicos e outras substâncias na pele. Trabalhadores da raça negra apresentam penetração de agentes menor que na raça caucasiana. A camada córnea da raça negra apresenta um maior número de camadas e a descamação espontânea desta camada é duas vezes e meio maior que nas raças branca e amarela. Weigand et al. (1974); Berardesca e Maibach (1996).
- Clima: temperatura e umidade influenciam o aparecimento de dermatoses como piodermites, miliária e infecções fúngicas. Hosoi et al. (2000). O trabalho ao ar livre é frequentemente sujeito à ação da luz solar, picadas de insetos, contato com vegetais, exposição à chuva e ao vento, bem como a agentes diversos potencialmente perigosos para a pele.
- Antecedentes mórbidos e dermatoses concomitantes: portadores de dermatite atópica ou com diátese atópica são mais suscetíveis à ação de agentes irritantes, principalmente os alcalinos, e podem desenvolver dermatite de contato por irritação. Toleram mal a umidade e os ambientes com temperatura elevada; portadores de dermatoses em atividade (eczema numular, eczema irritativo, dermatofitose, psoríase, líquen plano etc.) são mais propensos a desenvolver dermatose ocupacional ou terem sua dermatose agravada no ambiente de trabalho caso medidas protetoras específicas sejam negligenciadas. Portadores de acne e eczema seborréico podem agravar sua dermatose quando expostos a solventes clorados, óleos, ceras e graxas. O seborréico poderá ter ainda sua dermatose agravada por poeiras resultantes do desgaste de material plástico e outros. O atópico deve evitar o trabalho em ambientes quente, úmido ou o contato com óleos, graxas, ceras e outras substâncias químicas potencialmente irritantes. Portadores de eritema pérnio e de fenômeno de Raynaud não devem trabalhar manualmente com equipamentos que vibram em alta frequência, em ambientes frios ou em contato com substâncias frias.
- Condições de trabalho: o trabalho em posição ortostática, em trabalhadores predispostos, pode levar ao aparecimento da dermatite de estase, de veias varicosas, ou agravar as já existentes. Presença de vapores, gases e poeiras acima dos limites de tolerância pode ser fator predisponente, bem como a ausência de iluminação, ventilação apropriada e de sanitários e chuveiros adequados e limpos próximos aos locais de trabalho. A não utilização de proteção adequada, ou sua utilização incorreta, ou ainda o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) de má qualidade e a não observância, pelo trabalhador, das normas de higiene e segurança padronizadas para a atividade que executa podem ter papel importante no aparecimento de dermatoses ocupacionais.
Causas Diretas
- Agentes biológicos: Podem causar dermatoses ocupacionais ou funcionar como fatores desencadeantes, concorrentes ou agravantes. Os agentes biológicos mais comuns são bactérias, fungos, leveduras, vírus e insetos. As más condições de higiene pessoal, associadas aos traumatismos e ferimentos de origem ocupacional, podem ser fatores agravantes, causando complicações bacterianas como foliculites, impetigo etc. Como dermatoses ocupacionais propriamente ditas, mencionam-se o erisipelóide de Rosenbach, nos manipuladores de carne animal, e o antrax, nos manipuladores de couros de animais, pêlos de gato, de camelo. Health and Safety Executive (1979); Meneguini (1987).
- Vírus: várias atividades podem apresentar infecções ocupacionais, dentre elas dentistas, profissionais da área da saúde, veterinários, ordenhadores, (nódulo dos ordenhadores), açougueiros e outros que apresentam contato direto e frequente com animais e carne de animais infectados. Merchant (1982); Vandermissen et al. (2000); Sartori-Barraviera et al. (1997).
- Fungos e Leveduras: Padilha-Gonçalves (1977); Richard (1979); Zhicheng e Pangcheng (1986); Skogstad e Levi (1994) relatam afecções ocorridas em diversas atividades. O autor atendeu diversos trabalhadores de bares e restaurantes (lavadores de copos e pratos) com monilíase interdigital nas mãos. Casos de dermatofitoses em tratadores de animais, em barbeiros, em atendentes de saunas, em manipuladores de aves e dermatofitoses preexistentes agravadas em ambiente de trabalho quente, tais como aciarias, fundições e outros.
A esporotricose ocupacional pode ocorrer em jardineiros, horticultores e em operários que manipulam palha para embalagem. Furtado e Armond (1979). A leishmaniose e paracoccidioidomicose em trabalhos de abertura de picadas em matas. Paracoccidioidomicose com sintomatologia cutânea e pulmonar pode ocorrer em trabalhadores expostos em áreas endêmicas. Morbidity and Mortality Weekly Report (1999). - Insetos: Picadas por vespas e abelhas em pessoas que trabalham em ambientes externos. Mariposas do gênero Hylesia (Lepidóptera: Hemileucidae) aparecem em grande quantidade em determinadas épocas do ano e à noite sobrevoam locais iluminados e liberam material (“flexas”) que penetram na pele exposta de trabalhadores e outros causando lesões eritêmato-pápulo pruriginosas que involuem no período de uma a duas semanas. Glasser et al. (1993).
- Animais peçonhentos e outros: Picadas por aranhas do gênero Loxosceles e Phoneutria
podem causar lesões e dor no local afetado, podendo ocorrer necrose em cerca de 50% dos casos. O veneno é constituído principalmente por enzimas protéicas, fosfatase alcalina, fosfohidrolase, esterase, hialuronidase e esfi ngomielinase. O tratamento consiste em repouso, elevação do membro afetado e compressas frias. O processo infl amatório que segue pode ser controlado com prednisona 20 mg/dia e antibióticos (Eritromicina, tetraciclina e outros). Picadas em crianças e jovens merecem maiores cuidados. Sams et al. (2001). Cobras, aranhas, lagarta, escorpião, acidentes com peixes (Ictismo) e outros podem causar lesões à pele de trabalhadores nas atividades em que o risco de exposição possa ocorrer. Sams et al. (2001); Amaral et al. (1992); Haddad e Cardoso (1999). Acidentes com animais marinhos também podem ocorrer. Segura-Puertas et al. (2000).
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